quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Talento para dialogar e liderar

Por O POVO online

Empresário conceituado na área de gestão e liderança, Wagner Furtado Veloso dá lições simples de como ser um bom líder. Cuidar das pessoas e se preocupar com elas é o primeiro passo para quem quer buscar resultados.

Com experiência de sobra em cargos de chefia e liderança, Wagner Furtado Veloso preside a Fundação Dom Cabral (FDC), considerada a oitava maior escola de negócios do mundo, segundo ranking da Financial Times. A FDC também é conhecida como a melhor escola de negócios da América Latina, segundo o ranking da America Economia.

A empresa tem uma meta ambiciosa de dobrar seu tamanho em cinco anos, crescendo 20% ao ano. “Essa meta é possível a menos que possamos sentir que a qualidade possa ser prejudicada”.

Wagner Veloso tem 63 anos e trabalha na FDC há 10 anos. Até recentemente, ocupava o cargo de Diretor Administrativo. Também tem experiência em empresas estatais e privadas.

Segundo ele, o relacionamento profissional é o fator mais importante para liderar. “A principal característica de um bom líder é saber lidar com gente. Se você sabe lidar com gente, tudo fica fácil para liderar”, disse.

Essa habilidade é aprendida não apenas na escola, mas na vida. “Eu acho que a escola vem complementar com algumas coisas específicas, mas é no dia a dia que a gente vai aprendendo a lidar com gente e vai tendo as habilidades”, destacou.

Um entusiasta da educação, Wagner diz que não apenas o líder, mas qualquer profissional precisa estar constantemente aprendendo e se capacitando.

O Ceará, segundo ele, vai precisar investir em gestão e liderança para se desenvolver e receber grandes empreendimentos como a Siderúrgica do Pecém. O Estado tem um perfil empreendedor e conta em sua maioria com empresas familiares.

As possibilidades de crescimento são amplas, segundo ele. “Em termos de preparação de pessoas, todo o País cresce. Aqui no Ceará teremos uma siderúrgica. Vai demandar desenvolvimento de pessoas”, destacou.

O POVO – Queria que o senhor falasse sobre a questão da capacitação de profissionais hoje. O que falta no mercado? O que o mercado está demandando hoje?
Wagner Furtado Veloso – O mercado demanda tudo. Educação é fundamental para o desenvolvimento da família, do País, da cidadania. Então, o que é que falta? Eu acho que sempre vai estar faltando a gente se capacitar e se preparar melhor como cidadão. O aprendizado não para. Desde criança ou desde que a gente nasce está sempre aprendendo e vai morrer aprendendo. Eu acho que um grande valor da vida é você estar constantemente se preparando como pessoa para poder contribuir para uma sociedade melhor, para você mesmo, para a vida. Educação não para. Seja educação, como no nosso caso, de preparação de gestores, preparação de líderes, preparação de como lidar com gente. Acho que isso é importante para nós mesmos. É importante para a gente aprender a conviver.

 OP – E qualquer pessoa pode se tornar um líder? Quais as características de um bom líder?

Wagner – A principal característica de um bom líder é saber lidar com gente. Se você sabe lidar com gente, tudo o mais fica fácil para liderar. Porque a gente vive com pessoas, a gente trabalha com pessoas. Então, o que é mais importante para mim em um líder é ter habilidade de lidar com gente, conviver com gente. Fica tudo mais fácil.

OP – E de que forma é possível desenvolver essa liderança? Porque não é possível aprender a “lidar com gente” apenas no MBA e na pós-graduação?
Wagner – A escola da vida, dentro de casa a gente aprende mais convivendo com os pais da gente, convivendo com irmãos, amigos, pessoas que são amigas e pessoas que não são tão amigas. É sempre convivendo com pessoas que a gente vai aprendendo a cada vez mais ter essa habilidade de lidar com gente. Eu acho que a escola vem complementar com algumas coisas específicas, mas é no dia a dia que a gente vai aprendendo a lidar com gente e vai tendo as habilidades. Alguns pedem algum tipo de apoio profissional, ter gente te ajudando, profissionais te ajudando, seja de forma individual, seja em grupo. Você vai se educando. Crescendo como pessoa você acaba crescendo também como profissional. As duas coisas são ligadas. Você não pode crescer como profissional sem crescer como pessoa. A vida que vai nos preparando.

OP – Qual a diferença entre o líder e o chefe? Existe essa diferença?

Wagner – Eu não gostaria que existisse. Eu tive muitas oportunidades de ser chefe e para chefiar e acho que a gente tem que liderar. Engraçado é que as pessoas dizem que o chefe é aquele que pede algo e ao mesmo tempo procura o resultado. Mas se você procurar pura e simplesmente resultados financeiros, resultados em um determinado ponto de vista só, você não está realizando o todo, não está se realizando. O resultado financeiro muitas vezes não é tão difícil conseguir, mas você buscar resultado, por exemplo, financeiros com a satisfação e alegria das pessoas, isso identifica o que na minha opinião deveria ser um chefe.

OP – Só consegue ser um bom líder se também se sentir realizado no que faz?
Wagner – Eu acredito que sim e comigo tem sido desta forma. Se eu não tiver satisfeito comigo, certamente não vou poder estar alegre em relação ao que os outros estão fazendo.

OP – E essa questão de liderar, conversar e saber se comunicar com as pessoas. É possível garantir que isso dá resultado também? Para as empresas que ainda têm medo de conversar com o funcionário?

Wagner – Já que eu estou falando da minha vida, acho que eu fui desenvolvendo essa habilidade observando pessoas. Eu era uma pessoa muito calada, ainda sou muito calado. Eu gosto mais de escutar do que ficar falando e nessa de escutar a gente aprende também a falar. Aprendendo com o outro, a gente acaba passando esse aprendizado para um leque maior de pessoas também.

OP – Que é integrar a equipe?
Wagner – É fazer com que a equipe seja totalmente sintonizada com aquilo que vem sendo buscado por ela dentro da missão dela, dentro dos valores que ela acredita. Tem um amigo meu que disse: o que a gente deveria estar fazendo aqui para desenvolver uma empresa? Uma coisa que eu tenho feito, tenho exercido muito desde que eu passei a ser presidente da Fundação agora em abril. Foi o que ele falava: vamos conversar? A gente está sempre conversando uns com os outros, um ensinando para o outro, um aprendendo com o outro. É uma coisa simples você conversar uns com os outros, mas o tanto de aprendizado que isso nos traz, o tanto que a gente consegue depois devolver para o próprio local onde a gente está.

OP – Em uma entrevista, o senhor disse que a solução da empresa está dentro dela mesma. Que tipo de pesquisa é necessário fazer para encontrar essas soluções dentro da empresa?

Wagner – As empresas muitas vezes não param para conversar com elas mesmas. Quando a gente diz que a solução está dentro da empresa é como quando a gente procura um analista. A solução está dentro de nós mesmos. A gente vai e tem essa experiência com o analista para se encontrar. E se encontrando, a gente mesmo desenvolve a solução para nós.

OP – A universidade prepara o profissional, mas ele ainda precisa ir para as empresas para realmente para saber quais são as necessidades delas e de que forma ele pode contribuir? O senhor acha que de uma certa forma a formação básica e das pós-graduações é mal desenvolvida, pequena em relação ao que as empresas demandam hoje?
Wagner – Eu acho que a universidade cumpre seu papel bem demais. A universidade no mundo inteiro cumpre seu papel. Eu acho que cada um tem que encontrar sua forma de cumprir esse papel. Nós achamos que a forma que nós escolhemos para cumprir esse papel é através da formação dos executivos, é capacitação de lideranças. A melhor forma de fazer é complementando o conhecimento acadêmico com o conhecimento prático e esse conhecimento prático só encontra nas empresas, nas organizações, na gestão pública. A gente encontra convivendo com quem está fazendo.

OP – Há alguns teóricos que dizem que a empresa familiar pode não ser tão profissional quanto as demais empresas. O senhor acredita que é possível ter o mesmo grau de profissionalismo das outras?
Wagner – Eu diria o seguinte. Como a maioria das empresas do mundo são familiares, se a gente falar que as empresas familiares não são profissionais, estamos fechando as empresas todas do mundo. Eu diria que as empresas familiares ficam se perguntando e achando que precisam se profissionalizar. Mas o que é se profissionalizar? Muitas vezes dentro da própria família há as melhores pessoas para fazer a gestão da empresa. E às vezes por conta de ajustes dentro da própria empresa, às vezes um irmão ou uma irmã ou alguém de fora às vezes não aceita aquela liderança que seria a melhor para a empresa, a natural. Às vezes a pessoa sai da empresa para comandar um outro grupo de outra empresa familiar quando de repente ele poderia fazer. Então, se determinados conflitos fossem resolvidos dentro da própria empresa familiar, eles poderiam ter o profissional que se fala dentro da própria empresa.

OP – O que as empresas familiares mais demandam hoje?

Wagner – As demandas que elas fazem são as mesmas das grandes empresas. Não existe nenhuma grande empresa que demande coisas diferentes em relação à pequena empresa. Talvez uma demanda maior que a grande poderia ter é a alegria de gerar resultados e gerar resultados de uma forma feliz. Eu acho que na pequena empresa é mais fácil fazer isso, quando a empresa é menor. Muitas vezes o dono da empresa diz: eu gostaria que a minha empresa fosse aquela de quando ela nasceu, que a gente tivesse a felicidade e a alegria de vir para cá para trabalhar com resultados, mas sem perder a ternura. Eu acho que a grande empresa gostaria de fazer isso.

OP – O senhor já está com mais de 10 anos na Fundação, não é?
Wagner – Este ano vai para 11 anos. Foi em 2002 que eu fui para lá.

OP – O que o senhor tem aprendido como profissional ao longo desse tempo? É possível se reinventar como profissional na mesma empresa?

Wagner – Eu comecei a trabalhar na Fundação João Pinheiro lá em Minas Gerais ligada ao governo. Fazia desenvolvimento de executivos, planejamento de estado, alguns trabalhos específicos para o Estado e fiquei lá cinco anos. Depois, convivi em uma empresa estatal federal de siderurgia durante 13 anos. Quando atingi a posição de diretor, eu tive a oportunidade de sair para uma empresa privada. Eu saí, pedi demissão desse cargo. Fui trabalhar para me conhecer um pouco mais, para ver se eu consigo conviver bem, ser um bom gestor fora de uma estatal, sem a proteção do Governo. Isso me deu a oportunidade de crescer como pessoa. Eu passei cinco anos em uma empresa grande. Construção e siderurgia também. Alguns valores meus eu queria testar em outro lugar.

OP – Em que ano que o senhor saiu?
Wagner – Eu saí em 1989. Fiquei de 1976 a 1989. De 1989 a 1994 eu trabalhei como diretor financeiro do grupo Mendes Júnior. Depois passei dois anos aqui no Nordeste, em Fortaleza. Tive um convite para vir para cá. Foi uma outra experiência de vida que eu queria ter.

OP – O senhor pensa em permanecer pelo menos este ano à frente da Fundação?

Wagner – Não tem prazo para ficar lá não. Antes de completar 66 anos, eu espero que eu já esteja fora da presidência e ao mesmo tempo dentro da Fundação, retornando para ela.

OP – Pensei que o senhor fosse dizer que iria voltar para Fortaleza.
Wagner – Não, não. Quem sabe, né? O mundo dá tantas voltas... Quem sabe. A Fundação permite isso hoje. Ela nos permite trabalhar no Brasil e no mundo inteiro. Já temos representantes nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa. E quem sabe uma opção minha seja retornar para Fortaleza, mas isso seria alegria total.

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